sexta-feira, janeiro 20

Do avô

O tempo nos cuidados continuados está a acabar e portanto, tivemos que começar a ver lares.

É vergonhoso, mas vergonhoso mesmo, os preços que se praticam.

Realmente ser velhote nos dias que correm é mau, pois não há condições. Em casa é difícil ter condições e para irem para algum lado, é às fortunas.

No meio disto tudo, ainda bem que a minha mãe já está reformada e pode ainda andar a tratar destas coisas, apesar da dificuldade.

Mas um dos lares pedia 2500€! Quer dizer, era preciso a reforma do meu avô, da minha mãe e mais ainda.Isto é vergonhoso! Para depois, em alguns casos, tratarem mal dos nosso velhotes.

Ele vai continuar perto, ainda mais perto do que onde está agora. Vão ser por volta dos 1200€ por mês, sem fraldas nem medicamentos. Mas tem fisioterapia, que ele precisa e um colega de quarto que fala e anda, por isso, pode ser que obrigue o meu avô a mexer-se também e tenha ali um companheiro para o ouvir e partilhar as suas histórias.

Podemos ir lá vê-lo todos os dias, mas apenas 30 minutos. Como até é perto do meu trabalho, vou tentar ir lá mais umas vezes por semana, só para ver se ele está bem. Nem que traga apenas uma sandes e coma pelo caminho. 

Mas é assim que estamos. A caução já foi paga, de metade do valor. Ele anda a recuperar, ver a força de vontade dele até dá gosto e um orgulho imenso. Mas infelizmente não é a recuperação que necessitamos, para que possa voltar para casa.

A minha mãe não tem condições para andar a carregar com ele, trocar-lhe fraldas, vestir roupa, completamente sozinha. Não tem.  

Mas sei que se sente mal por ir colocar o pai no lar. Eu também me sinto, pois nunca fomos a favor disso. Mas a verdade é que ela não pode nem consegue. Pior, ainda fico sem mãe por causa disto. E não o posso também permitir.

Ando a ver se a acalmo. A dizer que, apesar de tudo, estamos a fazer o melhor que conseguimos e podemos para que ele esteja bem. Para que seja bem tratado. Que ela não tem que se sentir mal, pois ele não vai lá ficar abandonado. Vamos continuar a visitá-lo, vamos continuar a ler-lhe o jornal, vamos continuar a estar com ele. E ainda mais perto.



4 comentários:

  1. animo ojala las cosas mejoren. Te mando un beso.

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  2. Não é fácil realmente colocar os velhotes em lares. São caros e muitas vezes deixam muito a desejar no que concerne à forma com tratam os idosos. Por isso, cada vez mais, existem os lares clandestinos.
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    Poéticos e cordiais cumprimentos.
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  3. Qualquer dia vai haver um booom de gente velha a precisar de cuidados. E os lares, embora sejam negócio, lutam com falta de pessoal para tratar de tanta gente com necessidades especiais. Uns não andam, outros andam mas têm a mente tresloucada, outros estão acamados, etc. É um trabalho muito inglório, o dos funcionários de um lar. Já imaginou a força que fazem diariamente a retirá-los da cama e pô-los na cadeira de rodas. E o inverso. A cuidar da higiene, da medicação e muda fraldas. Enfim. Não há muito quem queira fazer tal trabalho - que é mal pago. Por enquanto as funções vão sendo realizadas por quem veio deste país e daquele e não tem mais onde se chegue. Mas quando a minha geração cair nos lares (se lá chegar), num país ora quase deserto de crianças e com os novos a emigrar em massa, muitos para ficarem por lá. Como será?
    Como a maioria dos lares é de pertença particular, são caros, sim. Mas não sei se não tem mesmo de ser assim, Cláudia.

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  4. Lares e outras instituições é muito complicado neste momento :((
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    A melancolia é nefasta ...
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    Beijos. Bom fim de semana.

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