segunda-feira, novembro 24

Infância

Já aqui falei no passado, acerca da minha infância.

Não considero que tenha tido uma infância feliz ou fácil. Sim, já se sabe, há sempre alguém pior que nós, mas esta é a minha realidade.

Tive que crescer super rápido e não percebi nunca o porquê.

Fui criada, como muitos de vós, pelo meus avós. Os meus pais trabalhavam e então eram os meus avós que faziam tudo connosco. Pôr e buscar à escola, de manhã, hora de almoço e final do dia, a minha avó era quem me penteava e imaginem um cabelão enorme, e ela a dar com cada puxadela que Jesus,  iam pôr e buscar à catequese, mesmo os meus pais no fim-de-semana às vezes poderem, etc.

Desde que me lembro que nunca tive um pai disponível, mesmo quando falava com ele. Sempre o ouvi dizer que se fosse para lhe dar trabalho, não contasse com ele. 

Festas de anos?  Só vais se o teu avô te for lá pôr e buscar. Não contes comigo. E foi isto a minha vida toda, enquanto dependente de terceiros para fazer o que quer que fosse.

Trabalhos de casa? Era o meu avô que ajudava SEMPRE. Em tudo, eram os meus avós. Não me recordo mesmo de mais nada a não ser isto.

Claro que tive uma educação super rígida. Era aquilo e mais nada.

E desde que me lembro também de ser gente... que todas as responsabilidades da casa, estavam à minha responsabilidade.

Desde que me lembro que sempre passei a ferro a roupa de 6/7 pessoas, desde que me lembro que os meus fins-de-semana eram passados não a brincar, mas a tratar das casas (a nossa e a dos meus avós), a limpar e arrumar tudo para, ao fim de 30 minutos, ver logo tudo sujo de novo.

Nunca tive uns pais que brincassem comigo, que conversassem, nada.

Olhando para trás, é provável que metade das minhas reacções, atitudes, alguma agressividade, sejam culpa de tudo o que passei lá atrás. 

Mais uma vez, não quero ser injusta. Tive muita coisa material e não só que outras crianças infelizmente até ao dia de hoje não têm e sou agradecida por isso. Mas se calhar, olhando agora para trás e já sendo mãe, faltou-me muita coisa que é bem mais importante.

E agora ao ser mãe, aquilo que realmente não tive e devia ter tido, receber atenção, amor, carinho, brincarem e conversarem comigo, etc,  estou a sentir esse impacto brutal na educação que estou a dar ao Tomás. Nos padrões que estou a tentar quebrar, fazer diferente, na educação que dou, no amor, no carinho, na atenção...

Pode ser hormonal, que ainda está tudo maluco por aqui, mas realmente olhar para o meu filho e saber que estou mesmo a fazer o esforço de quebrar estes ciclos, tem mexido muito comigo.

Olhar para trás e ver que não tive e que falta me fez.

Não digo que fosse um fardo para as pessoas, embora muitas vezes pense nisso, mas acabei por ter uma utilidade. Limpar e organizar tudo, a todos. Porque de resto...

Atenção, eu quero educar o meu filho a saber fazer tudo em casa. Mas não quero nunca que sinta que está a mais. Que não vale nada. Lá está, que é um fardo. Que o tive para colmatar algo ou para ser meu empregado. 

Têm sido dias complicados, por aqui. Tenho tentado controlar o choro, mas não está fácil. 

É avassalador, agora num sentido não tão positivo, ver a minha infância e ver o que vou tentar fazer diferente com o meu filho.

Não prometo que vou conseguir, apesar de já notar que o estou a fazer, mas prometo que vou tentar. E aqui tenho seguido forte.


 

Sem comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...