Já aqui falei no passado, acerca da minha infância.
Não considero que tenha tido uma infância feliz ou fácil. Sim, já se sabe, há sempre alguém pior que nós, mas esta é a minha realidade.
Tive que crescer super rápido e não percebi nunca o porquê.
Fui criada, como muitos de vós, pelo meus avós. Os meus pais trabalhavam e então eram os meus avós que faziam tudo connosco. Pôr e buscar à escola, de manhã, hora de almoço e final do dia, a minha avó era quem me penteava e imaginem um cabelão enorme, e ela a dar com cada puxadela que Jesus, iam pôr e buscar à catequese, mesmo os meus pais no fim-de-semana às vezes poderem, etc.
Desde que me lembro que nunca tive um pai disponível, mesmo quando falava com ele. Sempre o ouvi dizer que se fosse para lhe dar trabalho, não contasse com ele.
Festas de anos? Só vais se o teu avô te for lá pôr e buscar. Não contes comigo. E foi isto a minha vida toda, enquanto dependente de terceiros para fazer o que quer que fosse.
Trabalhos de casa? Era o meu avô que ajudava SEMPRE. Em tudo, eram os meus avós. Não me recordo mesmo de mais nada a não ser isto.
Claro que tive uma educação super rígida. Era aquilo e mais nada.
E desde que me lembro também de ser gente... que todas as responsabilidades da casa, estavam à minha responsabilidade.
Desde que me lembro que sempre passei a ferro a roupa de 6/7 pessoas, desde que me lembro que os meus fins-de-semana eram passados não a brincar, mas a tratar das casas (a nossa e a dos meus avós), a limpar e arrumar tudo para, ao fim de 30 minutos, ver logo tudo sujo de novo.
Nunca tive uns pais que brincassem comigo, que conversassem, nada.
Olhando para trás, é provável que metade das minhas reacções, atitudes, alguma agressividade, sejam culpa de tudo o que passei lá atrás.
Mais uma vez, não quero ser injusta. Tive muita coisa material e não só que outras crianças infelizmente até ao dia de hoje não têm e sou agradecida por isso. Mas se calhar, olhando agora para trás e já sendo mãe, faltou-me muita coisa que é bem mais importante.
E agora ao ser mãe, aquilo que realmente não tive e devia ter tido, receber atenção, amor, carinho, brincarem e conversarem comigo, etc, estou a sentir esse impacto brutal na educação que estou a dar ao Tomás. Nos padrões que estou a tentar quebrar, fazer diferente, na educação que dou, no amor, no carinho, na atenção...
Pode ser hormonal, que ainda está tudo maluco por aqui, mas realmente olhar para o meu filho e saber que estou mesmo a fazer o esforço de quebrar estes ciclos, tem mexido muito comigo.
Olhar para trás e ver que não tive e que falta me fez.
Não digo que fosse um fardo para as pessoas, embora muitas vezes pense nisso, mas acabei por ter uma utilidade. Limpar e organizar tudo, a todos. Porque de resto...
Atenção, eu quero educar o meu filho a saber fazer tudo em casa. Mas não quero nunca que sinta que está a mais. Que não vale nada. Lá está, que é um fardo. Que o tive para colmatar algo ou para ser meu empregado.
Têm sido dias complicados, por aqui. Tenho tentado controlar o choro, mas não está fácil.
É avassalador, agora num sentido não tão positivo, ver a minha infância e ver o que vou tentar fazer diferente com o meu filho.
Não prometo que vou conseguir, apesar de já notar que o estou a fazer, mas prometo que vou tentar. E aqui tenho seguido forte.

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