sexta-feira, junho 4

Lares

Muito se fala dos lares. Principalmente dos ilegais, claro.

Tanto eu como a minha mãe, sempre fomos contra os lares, quaisquer um deles. Claro, a minha mãe está reformada e o meu avô, apesar de todas as limitações, consegue mexer-se. Quem não tem essa hipótese, é normal colocarem os parentes em lares. Não estou aqui a criticar ninguém.

Aliás, até estou. Os lares em si. Os donos ou os funcionários, mas alguém tem que ser responsabilizado.

E eu nem vou falar de um lar ilegal. Vou falar de um bem legal.

Em que pagam 900€ por mês. 900€!

Supostamente é um lar onde terá todas as condições possíveis e imaginárias.

Pois, só imaginárias.

Esta amiga contou-me que tinha neste lar o avô. Que a mãe dela foi lá ver o pai e ele disse que queria sair dali, mas não entrou em pormenores. Ela percebeu logo que algo estava mal.

Resumindo +/- a coisa:

- Tiraram-lhe os dentes e não os punham para ele comer, com a "desculpa" que se pode engasgar. 

- Tinham-lhe levado montes de caixas de medicamentos, já não tinham nenhuma.

- Veio com sarna!

- Veio com algumas feridas no corpo.

Ora, neste caso, elas não podem ir lá todos dias, mas iam lá todas as semanas, penso.

Independentemente disso, mesmo assim, não conseguiram perceber destas coisas antes.


Só sei que o Sr. está super magro. Assim que chegou a casa da minha amiga, a neta, comeu este mundo e o outro. E agora têm que lhe ir fazer novos dentes. E voltar a pedir e comprar medicamentos... 


Que merda se passa na cabeça de quem trata estas pessoas? Acredito que não deva ser fácil, que é cansativo, que eles são chatos. Eu sei, toda a gente sabe. Mas são pessoas! O meu avô é chato por demais e tem a agravante de não ver quase nada nem ouvir, mas tratamos dele. É um ser humano. Come bem, compramos-lhe coisas boas. Não passa fome, frio, nada.

Irrita-me profundamente que depois estas pessoas sejam as "virgens ofendidas" que são contra o aborto, por exemplo, etc, etc, mas fazem estas coisas com pessoas que já viveram e passaram por tanto.

Agora tiraram o senhor de lá e vai para um lar que vai custar 1200€ por mês. É de esperar que hajam ainda mais condições, certo?

A ver vamos.



2 comentários:

bea disse...

A grande questão - uma das - é como tratar dos velhos. Porque a população está cada vez mais envelhecida. Por razões sobejamente conhecidas (e outras que se escamoteiam para debaixo do tapete), nascem poucas crianças. Mas os velhos, por avanço da medicina, são cada vez em maior número. Os lares suponho eu, deviam ser apenas para quem está acamado ou sofre de demência. No mais dos casos, os velhos agradecem se não forem retirados de casa e tratados em lares como crianças retardadas. Não concebo que se trabalhe uma vida inteira para terminar numa espécie de colégio interno sem proveito, com horas para tudo, desenraizados do que lhes pertence e onde viveram, em alguns casos, quase toda a adultícia. Não entendo esta concepção de mundo. De repente, as famílias, mal os velhos começam a cair em casa, ou desmaiam, ou têm um problema de saúde, há que Deus que não podem ficar sozinhos. E logo os filhos se levantam em peso e pensam num lar, por não terem vida para acompanhar os pais e assim ficarem muito mais descansados. Na verdade, aquilo que os filhos desejam é continuar a fazer o mesmo de sempre e que é ir visitar os pais quando lhes não desarruma a vida. Se num fim de semana não podem irão noutro qualquer. Portanto: é necessário que os velhos não incomodem. A solução é o Lar. Paga-se, é certo; mas alijam-se responsabilidades, passam-nas todas de armas e bagagens para o Lar (nome tão pouco próprio).
Pergunto-me qual será a razão para não haver apoio domiciliário em condições e que permita aos velhos estarem no seu habitat até ao fim e preservarem os seus gostos e dignidade. Morrem sozinhos? E depois? Há porventura alguém que morra acompanhado? Morremos todos sozinhos. Perguntem-lhes o que preferem, considerem a sua opinião.
Seria bom que os filhos pensassem a sério no que quereriam para si no futuro e agissem em consonância para com os progenitores.O vulgo é que o desejo dos filhos se imponha. Como se os velhos sejam crianças que ainda não sabem pensar. Que malvadez disfarçada de cuidado. Que egoísmo a raiar a hipocrisia. Os pais não entregam os filhos a um lar para que lhos crie, mas os filhos não aguentam os pais meia dúzia de anos, os filhos têm a sua vida de onde excluem os pais logo que ameaçam dar trabalho; para os velhos há uma gavetinha à parte chamada Lar. Que insensibilidade nos percorre para querermos os nossos pais em lugares onde não gostaríamos de estar.
Penso que a dinâmica dos lares tem de ser repensada. Na minha terra a Santa Casa tem vivendas construídas para os velhos. Casais ou singles. Têm serviço médico, de limpeza e refeições. Acho-as bastante agradáveis e permitem privacidade. Pena serem poucas.
Bom fim-de-semana, Cláudia.

A Teia Dos 20 Mais x! disse...

Ai que triste :( é mesmo algo que não consigo perceber. Que coração têm estas pessoas? Os nossos idosos são pessoas tão necessárias, tão doceis, tão a respeitar...

Lamento esta situação da tua amiga, bem como de todos os que sofrem com estas questões... :(

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