Do avô

Não tem andado nada fácil.

Só o vou ver ao fim-de-semana e fico com os nervos em franja.

Continua apático, mal abre os olhos, enrola a língua toda a falar... Não quer comer e o que ele comia quando lá íamos, sempre a queixar-se com fome.

Bebe muita água, que o obrigamos a beber, eu comecei a fazer-lhe uma espécie de fisioterapia nas pernas, que estão sempre paradas e dobradas, pois já tem dificuldade em as esticar.

Quero ver se começo a fazer todos os fins de semana, mais a fisioterapia que faz, se fizer, durante a semana, a ver se o ajuda a não ter dores, pelo menos.

Mas não anda fácil.

Sempre que a minha mãe me liga, que normalmente sou eu que lhe ligo a ela, fico com o coração nas mãos, Sei que se calhar é uma atitude exagerada da minha parte, mas não consigo acalmar o coração.

Vê-lo tão fraco, tão debilitado, com uma respiração tão fraca... Vê-lo a definhar aos nossos olhos, é doloroso demais.

Eu sei, eu sei, são 92 anos. Queremo-los cá eternamente, mas também que seja sem sofrer. 

A ver vamos, meu rico avô, quanto tempo mais te aguentas.

A verdade é que ele tem uma força de viver incrível... Que se agarre a ela para lhe passar esta infecção.