Nas limpezas de Primavera, apanhei uns postais que fui dando ao marido ao longo de alguns anos de namoro. Um livrinho de poemas românticos, um cd, etc.
Por um lado, o minimalismo disse-me para deitar aquilo tudo fora.
Por outro lado, o marido sempre quis guardar aquilo porque eu tinha dado.
Mas para mim, para além de aquilo não ter utilidade nenhuma (admito que eram muito poucos e já perceberão porquê), quando os li, já não me faziam sentido.
Sentimentos de início de relação, sentimentos que ficaram no passado, principalmente porque eu estou uma Cláudia diferente e a relação já está desgastada. Li coisas das quais, agora com outra consciência, me envergonhei de ter escrito (e não pensem que eram coisas badalhocas, nada disso. Eram românticas, talvez demais, a mostrar alguma "dependência").
E sabem o que fiz?
Rasguei aquilo tudo, sem ele saber, claro. E parti o CD. Tudo fora.
Senti um alívio grande. Senti que quebrei um ciclo.
O livro de poemas deixei ficar. É um livro de poemas. Ponto.
O resto, tudo para o lixo.
Hoje em dia, bem que me escusa de pedir para escrever o que quer que seja, porque simplesmente não consigo. Já não sinto que seja paixão, até porque essa acaba. É talvez um amor maduro, mas cansado. E talvez esse cansaço me impeça de escrever o que quer que seja, mesmo a frase mais simples.
Até também poderá ser porque já escrevi, a valorização era pouca e então agora bem pode querer que já não há mais.
Mas senti acima de tudo, que o tinha que fazer. Senti mesmo que quebrei um ciclo e mais uma vez, estou a sentir mais mudança em mim.
As dores do "crescimento" estão a ser algumas, posso ter recuos, posso nem conseguir chegar onde quero, mas estou-me a focar só no que poderá sair de bom daqui e é isso que interessa.
Vocês costumam deitar estas coisinhas fora?
7 comentários:
Quando se namora, regra geral, escrevem-se "coisas" atrevidas que... nunca poderão ser consideradas badalhocas.
Só poderia deitar fora caso existisse a separação da relação. Estando juntos nunca o faria. ( digo eu ...)
Tem que mandar o maridão ir passear o cão ... de vez, e talvez assim, consiga viver de coração e alma libertas desse sufoco, lol
Cumprimentos poéticos
Tens uma frase muito forte aqui "agora com outra consciência, me envergonhei de ter escrito", é forte e duro ler.
Ninguém conhece totalmente a realidade do outro. Se te saiu um peso de cima fizeste bem em te desfazer das coisas, mas e se pensasses que ao invés de te parecer "dependência" fosse entrega ao amor? Todo o amor inicia assim, forte e lamechas, de entrega (não submissão). E acredito que tenha sido esse o caso, afinal são muitos aninhos juntos :))
Quanto ao resto, ... Desejo de coração o melhor para ti :)
Não atiro fora nada que diga respeito ao meu coração de antes. Prezo muito o que então escrevi. E, ao invés da Cláudia, se releio, encontro-me tão semelhante que até dói. As dúvidas e perplexidades são as mesmas. Suponho que seja mau sinal eu não ter mudado. Mas encontro-me inteira nas palavras de então. Bom, talvez houvesse mais esperança, era outra a idade e havia muita vida pela frente. O desencanto era curta sombra penumbrosa.
Um dia, os filhos deitam tudo fora e, provavelmente, desconhecendo o que contém aquele saquito. Eles fazem o seu papel, mas não será por isso que abdico do meu: sou a guardiã do tempo que foi. Para quê? Para nada.
Este seu texto é preocupante. A menos que tenha sido escrito num estado de alma perturbado. Digo isto porque se referiu duas vezes à relação, achando que "a relação já está desgastada" e com um "amor maduro, mas cansado". Tenha atenção, porque isto pode ser o início do fim. Quanto ao guardar ou deitar fora, tudo depende das pessoas e do que se trata. Eu também não gosto de guardar muitas coisas.
Continuação de boa semana, amiga Paula.
Beijo.
Cláudia, creio que no meu comentário lhe chamei Paula.
Se o fiz, peço-lhe desculpa.
Um beijo.
Eu não gosto de guardar tralhas, mas o que mexe com sentimentos já é diferente.
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Eu não consigo deitar essas coisas fora, apesar de não ser a mesma pessoa, já fui essa pessoa e como tal gosto de recordar momentos... ainda para mais não sendo minhas(pois eram os postais que tu escreveste, como tal eram dele e não teus), jamais o faria...
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