segunda-feira, julho 24

Até breve avô

No dia 6 de Julho, o meu avô faleceu. Um dia antes da minha irmã fazer anos.

E quase três semanas depois, parece que ainda não o interiorizei. Parece que ainda o "tenho cá".

Foi para o hospital no dia 2 de Julho, a meu mando, porque o vi a piorar de dia para dia e no lar, ainda questionaram se valia a pena. 
Eu só ouvia que era eu que não me estava a mentalizar, porque o meu avô já tinha desistido.

Eu não aceitava, ainda não aceito, claro que não. 9 anos sem a minha avó e ele aguentou-se. Vários problemas de saúde ao longo dos anos e ele sempre se aguentou, porque raio ia desistir agora?

Para mim, além da idade e de um ou outro problema de saúde que ele pudesse ter, foram mesmo os "maus tratos" no lar que ditaram o seu fim.

Mas quem é esta gente para ditar o fim a quem quer que seja?

Infelizmente, sei que pode não fazer sentido porque hoje estamos cá, amanhã não, mas sinto que não me despedi dele. E está-me a custar imenso.

Dizem que não estou a saber lidar com o falecimento dele e talvez não esteja mesmo.

Está a custar, está a custar muito.

Quando eu era nova, praticamente vivi sempre com ele e a minha avó. Não sei se por todas as memórias, se por ele ter sido o meu último avô e eu agora não tenho mais nenhum, estou a sofrer imenso.

Partiu sozinho. A minha mãe ainda o conseguiu ver nesse dia, uns minutos, mas ele já "não estava cá". Aliás, desde que o deixei no hospital no dia 2, que ele não estava.

Vê-lo a definhar de dia para dia custou imenso. Mesmo sabendo que fizemos o que podíamos e conseguíamos, mesmo sabendo que nunca o abandonámos e que tratámos dele até ao fim, não estou a saber lidar. Parece que há aqui um "perdão" que tenho que dar a mim mesma, mas que ainda não o consegui fazer.

Perdi o meu avô. O meu último avô e está a doer muito. Se isto é estar no fundo do poço, então deixem que vos diga que já o atingi.

Não me sinto em paz, não sinto que o "assunto" esteja encerrado como anteriormente aconteceu com outros falecimentos.

Se isto fez abrir as comportas de tudo o que andava a guardar para mim? Não sei...

Mas até tenho medo deste regresso ao trabalho. Não me sinto ainda capaz. Choro quando me lembro de algo, mesmo que seja algo bom, como dizem sempre para trazer essas memórias e apenas essas...

Perdi o meu último avô e com ele, foi parte de mim.



5 comentários:

J.P. Alexander disse...

Lo siento mucho Te mando un beso.

bea disse...

Vai sempre parte de nós com aqueles de quem gostamos. Vai e não vai. Porque o sofrimento nos amadurece e dá perspectiva. Não que seja desejável, é antes necessário, faz parte de existir e não há outra forma de extirpá-lo senão pela vivência. Mas ensina qb a quem queira aprender.
Talvez seja a mentalidade judaico-cristã a impelir-nos à culpa. Ou será apenas a nossa insegurança quanto ao que poderíamos ter feito, a consciência de, em todos os nossos actos responsáveis, como dizia uma aluna há muitos anos, podermos ter feito mais e melhor. Acontece que não somos perfeitos. Nem na vida nem na morte. O seu avô desistiu porque o organismo desiste e não há forma de a vontade poder transformar a verdade: somos perecíveis e trazemos prazo de validade, ninguém ultrapassa tal desvantagem. Alegre-se com o que ambos deram um ao outro ao longo da vida. Isso é o que importa, o amor e o exemplo que lhe fica para sempre e a ajuda quando o necessite - também vivemos de lembranças. É em si e nos seus que o avô vive agora. Dê-lhe o prazer de ser feliz.
Beijinho e um xi-coração cheio de ternura, Cláudia.

" R y k @ r d o " disse...

Sei o que é perder todos os avós, o Pai e a Mãe. Sei também o que é perder um irmão (com 54 anos). Sei o quanto duro é. O quanto nos magoa e entristece. Estou solidário com o seu desgosto, nos desgostos que sei como doem.

Que o seu avô, que foi por si muito amado, descanse em PAZ.
.
Saudações poéticas. Uma semana (o mais possível) feliz.
.

Jaime Portela disse...

Não sentimos as perdas dos familiares da mesma maneira. A dor é sempre diferente. E também o tempo que ela dura.
Pense que o seu avô estará vivo enquanto se lembrar dele. Isso vai suavizar a perda, por certo.
Que a sua alma descanse em paz.
Boa semana, cara amiga Cláudia.
Um abraço.

Cidália Ferreira disse...

Compreendo-te perfeitamente.
Os meus pêsames 🙏🙏🙏

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